RECORD – Após o bom desempenho da época passada, o que esperar do Sporting 2014/15?

CARLOS PEREIRA – Espera-se que seja um ano de sucesso, embora estejamos a falar de uma época que terá outro nível de exigência. Basta estar envolvidos na Liga dos Campeões, para que seja uma época com testes mais difíceis, diferente até nos sistemas de treino. O Sporting vai ter de construir um plantel mais equilibrado, mas acredito que a estrutura está ciente dessas dificuldades.

R – Leonardo Jardim teve a capacidade de fazer os sportinguistas voltar a acreditar. A fasquia está demasiado alta para Marco Silva?

CP – A fasquia está muito mais alta.Estar inserido na Liga dos Campeões e assumir a luta pelo título é realmente uma fasquia altíssima em relação ao ano passado.Então, havia uma almofada grande, que era ser um ano de lançamento de jovens, de poder aquisitivo reduzido, não havia a obrigatoriedade de lutar pelo título e isso, parecendo que não, aos jogadores, à estrutura e muito mais à massa associativa, servia como uma âncora muito grande. Este ano, com o presidente a pôr a fasquia tão alta, o nível de condescendência será menor.

R – Pelos reforços garantidos, o Sporting tem condições para continuar na linha do que fez na época passada?

CP – Não sei. Não estou ciente do real valor destes jovens.Quando se contrata, só se sabe se eles são reforços depois de eles começarem a jogar. O facto de serem jovens e terem boas prestações noutros clubes não significa que venham a ter êxito neste nível de exigência.Sem pôr em causa o valor dos mesmos, sabe-se que, por vezes, estes jogadores, que vêm de clubes mais modestos, chegam aos clubes grandes, tremem e não confirmam as expectativas. Vamos esperar para ver se foram boas aquisições.

R – William Carvalho foi a revelação de 2013/14. Se sair, vê outro jogador capaz de assumir esse estatuto?

CP – Sinceramente, não vejo. Todos nós estamos cientes do valor deste jovem, que tardiamente se assumiu como titular na Seleção Nacional. No caso de ele sair, não vejo nenhum outro no Sporting ao nível de substituir um jogador desta qualidade.

R – Em termos competitivos, a próxima época será mais exigente do que a anterior. Basta apostar no reforço do plantel ou também a atitude tem de ser diferente?

CP – É preciso mudar para algo ainda melhor.A atitude competitiva e a forma como a equipa rendeu em muitos jogos foi boa, foi forte, conseguiu ficar à frente de um candidato ao título, o que foi uma atitude a todos os níveis louvável. Mas vai ter de mostrar ainda mais empenho, porque os desafios vão ser maiores. Logo aí, o empenho, que já não era mau, vai ter de ser superior. Mais competitividade, mais condição física, mais soluções para colmatar o desgaste de mais jogos.

R – Com os reforços já assegurados, quais são as posições deficitárias?

CP – Vamos ver quem sai, mas o Sporting carece de um central de maior qualidade e experiência, o mesmo se aplicando ao meio-campo e ao ataque Com estas prestações do Slimani, não sei se ele pode sair. Terá muito a ver com os jogadores que saem.

R – A presença do presidente perto da equipa pode continuar a ser um fator importante?

CP – Sim, até porque deu resultados. Se ele entender que deve estar outra vez junto da equipa, acho bem. Não vejo qualquer inconveniente. Antes pelo contrário.

«Tínhamos um plantel mais forte»

R – Este Sporting parece-lhe muito diferente do que treinou até 2009/10?

CP – É um pouco diferente. Na altura em que estive lá, tínhamos um plantel mais forte. Havia uma simbiose de qualidade jovem com maturidade e jogadores emergentes que vieram a ter grande êxito. Tínhamos uma equipa mais de acordo com as exigências, que nos permitiu ir quatro anos consecutivos à Champions. Havia juventude mesclada com outra experiência e muita qualidade.