Fernando Esteves
 

Esqueçam a noite eleitoral no Sporting. Esqueçam a alegada fraude que pelos vistos não foi fraude. Esqueçam o alegado atraso na apresentação dos resultados que afinal não foi um atraso. Esqueçam as tristes figuras de José Couceiro e Carlos Severino no último sábado. Esqueçam. Saltemos uns dias no tempo e cristalizemo-nos num segundo, numa só declaração, emitida ontem após a tomada de posse dos novos corpos dirigentes do clube: “Podem contar comigo”. O autor? Eduardo Barroso, o presidente cessante da Mesa da Assembleia Geral. Porque é que a frase é importante? Porque foi dita por um dos maiores responsáveis pela queda de Godinho Lopes da direcção do Sporting.

Podem contar comigo.” Contar consigo para quê, Dr. Eduardo Barroso? Para partilhar alegremente com jornais e televisões os seus sempre magníficos estados de espírito, como o fez profusamente durante o mandato de Godinho Lopes? Para dizer que “não há estratégia no clube”? Para denunciar “fugas em frente”? Para sublinhar o “desastre total” que é o rendimento da equipa? Para destruir a direcção, classificando a sua estratégia como “trágica”? É para isto que os sportinguistas podem contar consigo? É que, lamento informá-lo, foi exactamente o que lhes deu até agora.

Na hora da despedida, o médico puxou ao sentimento para justificar os permanentes dislates que caracterizaram o seu mandato: “Tudo o que fiz foi por amor ao Sporting.” Estranho afecto, esse. Concedo: o amor vem sempre temperado com alguma loucura. Mas até na loucura há uma migalha de razão. Infelizmente para os sportinguistas, Eduardo Barroso não conseguiu encontrar a dele durante o seu consulado na Assembleia Geral do Sporting. Se o clube está hoje pior do que estava há dois anos não é só porque Godinho Lopes foi incompetente – e foi tão incompetente – a escolher treinadores e colaboradores – foi também porque não pôde contar com um presidente da Mesa da Assembleia Geral que lhe desse a estabilidade de que manifestamente precisava.

Se Eduardo Barroso fosse um sportinguista tão apaixonado como diz ser faria um grande favor aos sportinguistas em geral e a Bruno de Carvalho em particular: calava-se durante uns tempos largos e provava, através do silêncio, que o seu amor pelo clube é mais e maior do que aquele que visivelmente sente pela sua imagem reflectida no espelho. Consegue fazer isso, Dr. Barroso?