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São várias as perguntas que se vão colocar a todos os clubes e a todas as estruturas dos chamados grandes do futebol português nas próximas semanas e todas elas esperam, como quase sempre acontece nestas circunstâncias, pelo desfecho dos resultados desportivos. Entre essas perguntas ganha particular relevância a que se relaciona com o actual treinador do Sporting, Marco Silva: vai ou não continuar em Alvalade, na próxima época?

Confessada ou inconfessadamente, o Sporting falhou o seu principal objectivo, que era lutar pela conquista do título nacional. Fez uma campanha europeia sem grandes reparos e baqueou perante uma das boas equipas do Velho Continente (Wolfsburgo). Saiu prematuramente da Taça da Liga, mas aí houve uma intervenção político-directiva que reduziu, no plano competitivo, as chances da equipa. Depois de um jogo no Funchal não muito conseguido, o Sporting está bem lançado para chegar à final da Taça de Portugal e com francas hipóteses de conquistar o troféu (pela lógica, será o Sp. Braga o outro finalista). O cenário mais razoável que se coloca ao Sporting é conquistar a Taça de Portugal e conseguir garantir o 3.º lugar, com a possibilidade de entrar, indirectamente, na Champions. Marco Silva tem essa pressão extra: se não alcançar esses dois objectivos fica numa posição de ainda maior vulnerabilidade. Não há que fugir a isso.

Nem vale a pena o recurso à letra do contrato: não há nada, nem mesmo a instabilidade interna, que justifique a perda do 3.º lugar do campeonato e/ou a conquista da Taça de Portugal, curiosamente (em princípio, sem menosprezo pelas capacidades do Rio Ave) num confronto com o mesmo adversário – o Sp. Braga. O Sporting não tinha qualquer expectativa no seu regresso à UEFA, ainda por cima pela porta grande da Champions. Ressalvando que, a nível da Liga Europa, é mais fácil o surgimento de um outsider, as surpresas que, todavia, eclodem em contraste com as respectivas campanhas nacionais são epifenómenos e, por isso, manifestações que não resultam de crescimento sustentado. Embora estejamos a falar de futebol, o Sporting, para ter ambições europeias, precisa de vencer, primeiro, o seu mais importante desafio, que é organizar-se internamente para ser competitivo e credível candidato ao título na Liga portuguesa. Em quanto tempo? Não se sabe. Contudo, não faz nenhum sentido o Sporting sonhar com a Europa se não conseguir ser mais competitivo dentro de portas.

Não me parecem boas as intenções de quem divulgou, recentemente, os contornos do contrato entre o Sporting e Marco Silva, mas parece evidente que essa revelação adensa a ideia de um regime de não-pacificação entre o presidente e o treinador dos leões. Há demasiadas feridas abertas, o que é normal na sequência de um processo doloroso. Quando a crise rebentou, defendi a ideia segundo a qual a radicalização da posição presidencial poderia levar, inclusive, à queda de Bruno de Carvalho. O presidente recuou e fez bem, em nome da sua longevidade no cargo, e também em nome de uma posição não exactamente alinhada com o actual sistema de organização do futebol e das suas demasiadas entorses. Manteve Marco Silva no cargo, provavelmente pressentindo o perigo de uma decisão precipitada, mas já se sabia que a coexistência não iria ser fácil e iria conhecer uma fase de maior clareza num momento de menor fulgor competitivo. Esse momento aí está, com a derrota clara no Dragão.

Só em condições muito especiais se deve mudar de treinador no decurso de uma época. Pelas razões aduzidas, Marco Silva foi poupado. Mas isso não deve contribuir para a negação da realidade. E a realidade é que o divórcio parece estar iminente. O momento certo para a avaliação nua e crua da situação é o final da época. Provavelmente Bruno de Carvalho já não pode ver Marco Silva e Marco Silva já não pode ver Bruno de Carvalho. Com a elegância possível, se calhar o melhor é fazerem contas e cada um ir à sua vida.