Carlos Barbosa da Cruz
 

Há jogadores que amuam, porque o treinador não os põe a jogar; outros porque não jogam na posição que gostam; outros ainda porque não gostam de ser substituídos, porque o amigo do peito fica no banco ou ainda por questões tão fúteis como o clube não deixar a namorada ir ao estágio fazer-lhe penteados para o jogo (é verdade!).

Depois há a questão do dinheiro. Há jogadores que só treinam e jogam bem quando o salário está na conta (conta-se que Peter Schmeichel nem sequer aparecia se as contas não estivessem pontualmente em dia), há os que fazem ronha, há os mercenários e os que sentem mais a camisola. Isto para não falar nas questões de diferenças de remuneração no seio da equipa, focos tradicionalmente potenciadores de mal-estar (um jogador brasileiro do Benfica que se destacou no princípio de uma época pelas suas exibições desinteressou-se quando o clube não lhe deu o mesmo que ao João Pinto, na altura a estrela da equipa).

Há ainda formas diferentes de reagir; uns falam através do empresário, outros ruminam o seu descontentamento, outros reagem mais a quente. É preciso não esquecer os grupos que se formam, normalmente em função de antiguidades, proveniências ou nacionalidades, e que tendem a reagir em função de interesses comuns. Todo este microcosmos tão complexo de vivências e culturas é conhecido no jargão do futebol pela designação genérica de balneário.

Têm-se desenvolvido muitas teses cabalístico-filosóficas sobre como gerir um balneário, se com o chicote, se com o dinheiro, se com o coração – já vimos de tudo.

Desde que vi um duro como o Marco Materazzi a chorar, quando o José Mourinho saiu do Inter para o Real Madrid, fiquei elucidado que o sucesso deste começa na forma como consegue segurar o dito balneário.

É seguramente tarefa difícil a gestão de interesses tão divergentes, de egos tão inflacionados quanto impreparados, de interferências externas permanentes dos media, dos empresários, da curiosidade alheia e tutti quanti, agravada normalmente quando o dinheiro escasseia e a concorrência desestabiliza. Reconheço que é preciso muita persuasão para convencer um jogador a permanecer e jogar numa equipa quando lhe oferecem um salário dez vezes superior noutra.

De qualquer forma, um balneário em que se permite que um jogador interpele e invetive diretamente o presidente do clube, é um balneário mal montado. E, ao permitir-se que esse episódio transpire para o exterior, temos um balneário mal blindado.