Não há dor maior que não saber de um filho. Diz quem sabe analisar o assunto que a dor é menor, se podemos falar assim, quando sabemos que um filho morreu do que quando perdemos o paradeiro de um nosso rebento.
Nos últimos 17 anos todos nós passamos por esse sofrimento. Não sabemos onde está o nosso grande amor. Está irreconhecível, num lugar longínquo. Uma qualquer máfia de fato e gravata levou-o e tornou-o numa espécie de elite para gestores que percebem mais de golfe do que de futebol, que percebem mais de comissões do que de pessoas, que pensam saber mais de números do que de uma bola a passar a linha de golo.
Tenho 24 anos, lembro-me muito pouco do que era esse nosso amor. Era muito pequeno quando o levaram. Lembro-me do Balakov e do Oceano. Lembro-me do Estádio antigo cheio com pais a filhos de mão dada e um vulcão verde a emergir. Lembro-me da nave que me punha um sorriso de superioridade quando dizia “somos o clube mais ecléctico de Portugal”. Lembro-me de ter orgulho quando gritava “GOLO!”.
Mas ouvi falar de muita outra coisa. Do Joaquim Agostinho que fazia um país inteiro encher-se de orgulho e dava a tantos emigrantes um motivo para sorrir para lá dos Pirinéus, dos cinco violinos (com o Peyroteo, sim, mas o original) que cantaram o nome do Sporting para todo o mundo ouvir, dos velhotes que iam à missa e se benziam “em nome do pai, do filho e do Peyroteo porque o Espírito Santo é do Benfica”, daquele grande Presidente que não se acobardava às mãos do senhor do norte e lhe fazia frente.
Continuo à tua espera, à espera que voltes. Continuo, verão após verão, estupidamente a acreditar que “este ano é que é”. Desespero para que chegue o dia em que voltaremos a ter o estádio cheio domingo após domingo, com pais e filhos a gritarem por ti. Com todo o respeito e orgulho, quero mais do que festejar as vitórias dos juniores, do futsal ou do atletismo. Até quando esta dor vai perdurar? Até quão fundo vamos ter que bater para que acordes e voltes por ti? Quero-te de volta, sim, e já não é um pedido, é uma extrema unção, se quiseres. Porque eu sou mais Sporting numa lágrima que me escorre pelo rosto ao lembrar-me de como eras do que todos aqueles que te roubaram de mim por mais botões de punho que ostentem.
Olho para o presente e interrogo-me: “Afinal porque te amo tanto se já nem és nada daquilo que vi, daquilo que ouvi falar? Porque te amo tanto se já nem sei se existes?”. A resposta é simples: amo-te porque é assim que se ama um filho, incondicionalmente.
A todos nós, aos 3 milhões que choram pelo mundo com os nossos golos, aos 30 mil que no dia 23 podem mudar o rumo da nossa história, ao Paulinho, aos idosos de Parambos, ao João Benedito, à memória do Vítor Damas e do João Rocha que já não o voltaram a ver, a mim e a ti, roubaram-nos um filho. Roubaram-nos o Sporting Clube de Portugal. Devolvam-no, antes que morra sem o voltar a ver. Antes que seja tarde demais.